18/01/2025 às 09:32
Mesquita na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro, começou este sábado (18) celebrando a sabedoria da malandragem. Feijoada e samba para lembrar o cantor, compositor e multi-instrumentista Bezerra da Silvia, que morreu há 20 anos, cantando a vida da favela, com beleza e sem disfarces.
José Bezerra da Silva nasceu no Recife. Aos 15 anos de idade, fugiu para o Rio de Janeiro, escondido num navio, para ir atrás do pai que não conhecia.
Antes de se tornar uma das referências do samba, trabalhou na construção civil, morou na rua, foi preso mais de 20 vezes. Uma história que também deu samba, O preço da Glória, feito em parceria com o amigo Enedir Vieira Dantas, o Pinga.
Bezerra começou na música em 1950, como ritmista e entrou num estúdio pela primeira vez em 1970 com Jackson do Pandeiro que gravou suas primeiras canções. O ritmo ainda era o coco, mas a ironia já estava presente como em Preguiçoso.
Carreira
O cotidiano de uma sociedade desigual foi a matéria-prima. Para o advogado e mestre em linguística, Yuri Brito Santos, essa é a maior aula que Bezerra tem pra nos dar.
“Bezerra da Silva, ele vai mostrar que, primeiro, esse segmento marginalizado da sociedade é suspeito até que se prova o contrário. Então, a premissa do princípio da inocência, do Estado Democrático de Direito, isso não se aplica às comunidades carentes cuja voz ele ecoa através da música. E o outro ponto interessante, ele próprio dizia, de maneira até trágica, se nós pensarmos, que não conseguia cantar o amor, né? E muito de sua música tem a questão da violência. Porque, ao contrário dessa visão do Brasil amistoso, o que a gente encontra é um Brasil hostil.”
O reconhecimento chega já no final dos de 1970, como cantor e compositor de Partido Alto, como lembra o cantor e compositor Roberto Frejat.
“Bezerra da Silva acabou criando, com o Dicró, uma linguagem irônica, bem-humorada e que falava muito desse dia a dia das comunidades e das pessoas mais simples. Era um samba muito swingado também, muito bem feito.”
Quando Frejat ainda fazia parte da banda Barão Vermelho, regravou um sucesso de Bezerra.
O malandro foi o grande personagem de Bezerra da Silva, como afirma Pinga.
“Bezerra falou isso pra mim: Pinga, a palavra malandro é sinônimo de inteligência. O malandro é um cara que tem sabedoria. Ele não é para estar roubando ninguém, esculachando ninguém, e malandro, aonde ele chega, ele não corre em ninguém.”
Bezerra da Silva morreu em 17 de janeiro de 2005, aos 77 anos, após complicações nos pulmões.
Já o encontro em Mesquita para celebrar o maior dos malandros começa na tarde deste sábado e termina só no domingo (19). Claro, com churrasco e partido alto.
*Em parceria com Gilberto Costa, da Agência Brasil e sonorização de José Alves.
Cultura Referência brasileira, cantor terá homenagens no Rio de Janeiro. São Paulo 18/01/2025 - 09:30 Izabella Silveira Eliane Gonçalves* - Repórter da Radioagência Nacional Bezerra da Silva Rio de Janeiro samba sábado, 18 Janeiro, 2025 - 09:30 4:58Continuar lendo ...Para ler no celular, basta apontar a câmera