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Projetos buscam preparar jovens tutelados pelo Estado para vida adulta

Rádio Agência

22/01/2025 às 18:07

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Os 18 anos mudam definitivamente a vida de um jovem. A pessoa passa a ter sua maioridade civil, com direitos e deveres. Pode casar, tirar carteira de motorista, viajar sozinho, ser responsável pelas próprias ações, responder pelos seus atos. 

Para parte desses jovens, essa transição da adolescência para a vida adulta é cercada de apoio e vigília da família. Mas o que acontece com quem viveu a infância e a adolescência sem o abrigo familiar? Quem, por uma decisão da justiça, passou a ser cuidado pelo Estado em instituições de acolhimento?

Pela legislação, esses jovens devem deixar o acolhimento institucional para seguir sua vida adulta quando fazem 18 anos.

Lucas – para preservá-lo, vamos identificá-lo assim nesta matéria. Lucas vai passar por essa transição agora em janeiro, quando completará 18 anos. Desde os cinco, ele passou por diversas instituições. Ele conta como se sente, prestes a deixar o acolhimento: “como eu não tenho uma rede de apoio familiar próxima a mim, ou seja, como eu vou realmente sair do acolhimento e ir para a vida, por assim dizer, eu fiquei bastante assustado. Na verdade, no sentido de: ‘meu Deus, e agora, o que vou fazer?’. Eu não sei bem como vou migrar, se eu vou morar sozinho, se vou para outra instituição que vai me acolher por um tempo, porque a gente sempre viveu ou com os pais ou na instituição. Mas, ainda assim, não é a mesma coisa. A gente não tem essa mesma seguridade, não tem o respaldo de estar sempre tutelado pelo Estado”.

Lucas vive em Campinas, em São Paulo. Além da instituição de acolhimento, ele contou com projetos como o Trilhar, que busca preparar jovens para a vida adulta, trabalhando com atendimentos individuais para a construção de um plano de vida. O projeto, da Associação de Educação do Homem de Amanhã e da Fundação FEAC, já atendeu mais de 130 adolescentes desde 2019.

O coordenador do Trilhar, Fábio Barbieri, conta que o projeto busca um acompanhamento desses jovens antes, durante e após o processo de saída do acolhimento. “A gente percebe que é necessário dar esse tempo a eles, mesmo tendo todo esse acompanhamento. A vida na maioridade para eles é muito difícil, porque há, praticamente, muitas coisas que eles precisam fazer que eram feitas pelos cuidadores, educadores e pela equipe técnica. Agora, fica a critério deles toda essa responsabilidade. O peso da maioridade para eles é muito difícil. E muitos acham que não dão conta mesmo. Então, eles têm no Trilhar esse apoio ainda de ajuda, de orientação e socorro nesses momentos”, explica Barbieri. 

O Distrito Federal também conta com uma experiência de apoio a jovens que saem de abrigos e outras formas de acolhimentos. Em 2021, o governo do Distrito Federal iniciou um projeto de repúblicas para meninas acolhidas que chegam à vida adulta. Até o momento, 14 jovens passaram por essa experiência em casas alugadas para esse atendimento, onde ficam seis pessoas.

A gerente substituta de Acolhimento para Crianças, Adolescentes e Jovens da Secretaria de Assistência Social do DF, Luiza Carvalho, considera que o projeto é bem-sucedido. “Tem uma jovem que, inclusive, passou na UnB. Hoje, ela cursa o Serviço Social e é meu orgulho. Com certeza, o suporte a mais da República foi um fator de proteção. A gente tem uma outra menina também que, prestes a completar dezoito anos, foi resgatada de trabalho análogo à escravidão e exploração sexual. E também ela fez uma revolução na República. Toda a experiência que ela tinha com situações que não eram a realidade das outras meninas”, destaca.

Luiza Carvalho assegura que, além do acompanhamento na República, as jovens também podem ser incluídas em outros programas sociais, como o auxílio-vulnerabilidade e auxílio - aluguel.

Em todo país, outras iniciativas tentam apoiar o amadurecimento desses jovens para esta nova vida, mas o desafio de se virar sozinho ainda é bem grande, como explica Lucas: “eu não tenho casa, não tenho para onde voltar. Tipo, depois de, sei lá, seis meses ou um ano, se a instituição parar de fazer esse acompanhamento e eu ainda não estiver pronto. Sei lá, se eu perco meu emprego, o que eu vou fazer, sabe? É uma preocupação. A gente nunca sabe o que pode acontecer no futuro. Há muitos casos de jovens que ou estão em instituição ou já passaram que têm muita relação com o uso de drogas, entende? Isso, querendo ou não, é um meio de levar essa pessoa, por exemplo, a não poder mais trabalhar, porque se tornou um adicto, está viciado, e aí tem ‘n’ outros problemas”. 

Um dos desafios desta reportagem foi encontrar ações estruturadas para apoiar jovens que deixam a tutela do Estado. Não existe uma política pública nacional para atendê-los. Essa questão será discutida na próxima matéria da nossa série especial sobre infância nos abrigos.

*Com sonoplastia de Jailton Sodré

Direitos Humanos Por lei, jovens devem deixar acolhimento institucional aos 18 anos Brasília 22/01/2025 - 18:07 Rafael Gasparotto/Rafael Guimarães Gésio Passos – Repórter da Rádio Nacional Apadrinhamento aconchego Abrigo crianças Adolescentes Estatuto da Criança e do Adolescente Trilhar acolhimento quarta-feira, 22 Janeiro, 2025 - 18:07 5:14

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