15/02/2025 às 16:18
Cacá Diegues morreu nessa sexta-feira (14) aos 84 anos, na capital fluminense, em decorrência de complicações causadas por uma cirurgia. Ele será cremado no Cemitério do Caju.
“Um homem doce, tranquilo, isso também pesa em tempos de hoje, isso é um valor extraordinário. É uma pessoa que deixa muita saudade. Fiz vários trabalhos com ele. Eu estava acabando agora o último filme dele, acabando de fazer a trilha sonora do Deus é Brasileiro número 2. Ele não conseguiu terminar e espero que alguém termine. A música ficou pronta. Tivemos muitas colaborações”, disse Gil.
A cineasta e filha de Cacá, Isabel Diegues, contou que o pai é uma figura que desde o começo de sua vida, filho de sociólogo pesquisador do folclore brasileiro, alagoano, é amante do Brasil.
“Ele fez da vida dele uma grande imersão nesse universo e ao mesmo tempo tanto de descobertas para ele mesmo quanto de desvendar no sentido de lançar luz sobre aspectos da cultura brasileira que tantas vezes a gente, enquanto sociedade, não queria ver”, disse Isabel.
Ela acrescentou a importância de Cacá para a cultura brasileira é imensa.
“Ele fincou pé em promover, pensar, inventar uma cultura para o Brasil, uma cultura original, misturada, da alegria. Ele dizia 'não adianta democracia sem oportunidade'. Além de um grande artista, ele é um grande pensador do Brasil, da cultura brasileira. Ele filmou, escreveu e editou até o último dia da sua vida. Temos um filme dele para lançar”, contou.
Cacá Diegues deixa esposa, teve três filhos (a caçula Flora Diegues morreu em 2019) e quatro netos.
Para a cineasta e roteirista Carla Camurati, Cacá era um dos grandes cineastas do país, não só com tudo o que ele filmou, mas era também uma pessoa extraordinária e companheira.
“Ele deixa um legado de uma visão do Brasil muito interessante, profunda e mágica. O olhar do Cacá sobre o Brasil foi um olhar que conseguia ver a mistura, a alegria, a loucura. Ele deixa para nós um espelho muito lindo do que é o povo brasileiro”, disse a cineasta.
A atriz Cláudia Abreu fez seu primeiro filme com o cineasta em Tieta. “Ele é uma das pessoas da cultura mais importantes no sentido de que foi uma pessoa fundamental para o cinema. Um pensador do Brasil, um apaixonado pelo Brasil, sempre antenado com os movimentos culturais. Um farol e um incentivador de novas gerações e de novos talentos”.
A atriz Mariana Ximenes também foi prestar sua homenagem. Ela trabalhou com Cacá no filme O Grande Circo Místico. “Ele foi um alagoano que amava a vida e reproduzia esse amor no cinema dele. Ele era apaixonado pelo Brasil e por pessoas. Ele é um poeta das imagens”.
Um dos precursores do movimento artístico Cinema Novo, Carlos Diegues nasceu em 19 de maio de 1940, em Maceió, e mudou-se para o Rio de Janeiro, com a família, aos seis anos de idade.
Começou no cinema quando ainda estava no Diretório Estudantil da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio), onde fundou um cineclube e passou a fazer produções cinematográficas amadoras, junto com colegas como Arnaldo Jabor.
O cineclube foi um dos núcleos de fundação do Cinema Novo, movimento inspirado pelo neorrealismo italiano e pela Nouvelle Vague francesa, e marcado pelas críticas políticas e sociais, principalmente durante a ditadura militar.
Entre suas produções dentro do movimento, destacam-se Ganga Zumba (1964), A Grande Cidade (1966) e Os Herdeiros (1969).
Em 1969, deixou o Brasil e foi morar na Europa, por ter participado da resistência intelectual e política à ditadura. Ao retornar, na década de 70, dirigiu Quando o Carnaval Chegar (1972), Joanna Francesa (1973), Xica da Silva (1976), Chuvas de Verão (1978) e Bye Bye, Brasil (1980).
No período de retomada do cinema brasileiro, lançou Tieta do Agreste (1996), Orfeu (1999) e Deus é Brasileiro (2002). O Grande Circo Místico (2018) foi seu último lançamento como diretor.
Ao longo da carreira, conquistou prêmios em inúmeros festivais nacionais e internacionais. Em 2018, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras na vaga de Nelson Pereira dos Santos.
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