12/03/2025 às 12:15
Em abril de 2021, o advogado Luiz André Pereira recebeu o diagnóstico que ninguém queria naquele momento, estava com covid-19. Ele e a família estavam respeitando o lockdown, mesmo sem qualquer comorbidade, ele precisou de internação. Foram 38 dias de UTI, duas intubações, traqueostomia, além de paradas cardíacas. Ele deixou o hospital com 30 kg a menos e sequelas que sente até hoje.
"Eu tive três paradas cardiorrespiratória naquele dia e eles estavam me desfibrilando. O choque que eu estava pensando que eu estava levando na perna, era o desfibrilador cardíaco da UTI, o pessoal estava me ressuscitando, porque eu estava passando pro outro lado. E foi três vezes. Eu tive a passagem comprada. Paguei a passagem, fiquei na fila, entrei no ônibus e me buscaram de volta. Alguém chegou e falou assim: 'não, não é sua hora, você tem alguma coisa para fazer ainda no mundo'. E me devolveram pra cá de volta".
O Luiz foi um dos 39 milhões de brasileiros que tiveram COVID-19 desde 2020. A doença matou mais de 715 mil pessoas no nosso país e por trás de cada número uma história.
Caçula da família, Gustavo Araújo era grudado com os pais. Em julho de 2020, seu pai e sua mãe pegaram Covid e foram internados juntos, mas sua mãe teve alta.
"Então assim, foi uma coisa muito desesperadora, porque a gente estava vendo a aflição de outras pessoas em outros lugares e, assim, quando aconteceu com a gente, a gente ficou ainda com mais apreensão, né? Porque, poxa, a gente nunca imagina que seja com a gente. O meu pai era aquele cara super extrovertido, ele vai saber, é um cara que adorava a arte, né? Tocava vários instrumentos, era um cara super extrovertido, piadista. Então, assim, era um cara super bem humorado, entendeu? Minha mãe hoje tá com 64, né? Que foi a a idade que foi acometido o meu pai. Na época ela estava com 60, né? Aí hoje ela tá assim, vamos dizer, mais aceitável, né? No sentido assim de saber o que houve e tudo mais, mas ainda ela sente muito".
Michele Ravanelli era enfermeira na rede pública de Brasília e viu de perto a devastação da Covid, leitos lotados, casos graves, mortos. Morando com os pais idosos, um deles com comorbidade, ela resolveu sair de casa para protegê-los.
"A gente conversava por vídeo chamada, por telefone, era isso, tanto com eles, com meu irmão, né, com meus sobrinhos também. Pensava, não, é só por um tempo, vai passar, vai passar, só que demorou".
Michele contou ainda como era o dia a dia no hospital.
"E assim, era cenário de guerra mesmo. Era aquele tanto de gente, era desesperador, assim, quem trabalhou diretamente, não tem como assim, acho que esse povo não ficou com a cabeça boa até hoje. Era capote, toca, luva. E aí só tirava para ir ao banheiro, para comer, era o tempo inteiro com aquela máscara, com aquele capote, com aquela face shield, né, aquele 24 horas desse jeito".
A pandemia dificultou algo básico para qualquer pessoa, a troca de afetos. A falta de calor humano por meses prejudicou a saúde mental de muita gente, algo que pode ser percebido até hoje.
Dados do Ministério da Saúde de dezembro de 2024 apontam que 33% dos brasileiros ainda têm quadros de ansiedade decorrentes da pandemia, 17% tem dificuldades de concentração e 13% de perda de memória. Muita gente que respeitou o isolamento precisou criar estratégias para se manter minimamente são. O clube de leitura da jornalista Juliana Toledo era um alívio na solidão.
"E aí a gente teve a ideia. Eu não sei precisar como que foi, quem deu a ideia, como que começou, mas eu sei que a gente começou o grupo nessa época numa forma de ser suporte mesmo, assim, né? Uma para para outra. Então ter pessoas que conseguiam talvez adentrar na história do da literatura, assim como eu e poder compartilhar isso com as meninas, foi fundamental para não pirar, porque eu acho que se não fosse isso eu teria surtado de fato".
As aulas de violão deram força para o assessor Giovani Noble e elas o ajudaram a manter a cabeça ocupada e funcionaram como uma terapia.
"A música, nesse momento, teve essa função terapêutica de, naquele momento, trazer essa camada de subjetividade, de sentimento, de coisas que batem um som e dentro da cabeça você fala: 'Cara, que som gostoso', e tudo mais, e passarinho lá fora, e não sei o quê, cantando, tocando com a janela aberta ali. Era um outro clima, parecia que você saía daquele momento para poder ter um um alívio mesmo, né?"
Sem poder ir à escola, longe dos amigos, trancados em casa, as crianças e adolescentes também foram grandes vítimas da pandemia. Na terceira reportagem da série, vamos falar das consequências que ela trouxe para os estudantes, como problemas de ansiedade e na alfabetização.
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