20/02/2025 às 11:07
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, a denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, contra Jair Bolsonaro (PL) avança além das conclusões da Polícia Federal (PF) sobre os ataques de 8 de janeiro de 2023. A Procuradoria sustenta que o ex-presidente não apenas fomentou os atos antidemocráticos, mas também concordou com um plano para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes.
No entanto, esses pontos não constam no relatório final da PF, que apesar de estabelecer conexões entre Bolsonaro e a radicalização de seus apoiadores, não chegou a imputar diretamente sua participação nos ataques nem a sua anuência a um plano de homicídio.
Diferentemente da PF, que apontou que Bolsonaro estimulou um ambiente de desconfiança eleitoral e fortaleceu discursos golpistas, a PGR atribui a ele uma ligação direta com os ataques em Brasília.
Gonet sustenta essa tese com mensagens de WhatsApp trocadas entre aliados do ex-presidente. Em uma delas, datada de 2 de janeiro de 2023, o major da Aeronáutica Maurício Pazini Brandão escreveu:
“O plano foi complementado com as contribuições de sua equipe. Aguardamos na esperança de que será implementado. Bom dia. A ‘minha tropa’ (hehehehe) continua com ‘sangue nos olhos’… Bom dia. Feliz Ano Novo. Conversa hoje com o Amir. Desmobilizamos a tropa ou permanecemos em alerta?”
O relatório da PF menciona a mensagem, mas não aponta qualquer resposta de Bolsonaro ou ações concretas que indiquem sua participação nos ataques. Mesmo assim, a PGR afirma que a invasão ao Congresso, ao Palácio do Planalto e ao STF foi “fomentada e facilitada” pelo grupo ligado ao ex-presidente.
Já Mauro Cid, considerado peça-chave da investigação, negou relação entre as mensagens e o ataque de 8 de janeiro. Em depoimento a Moraes, declarou:
“Ministro, o dia 8 foi uma surpresa para todo mundo. Os militares estavam de férias.”
Apesar de a PF tratar Cid como um “fio condutor” da apuração, sua versão não foi considerada na denúncia da PGR.
Outro ponto em que a PGR extrapola as conclusões da PF é a suposta concordância de Bolsonaro com o chamado plano “Punhal Verde Amarelo”, que previa o assassinato de Lula, Alckmin e Moraes.
A PF concluiu que Bolsonaro teve ciência da proposta porque o documento foi impresso pelo general da reserva Mario Fernandes dentro do Palácio do Planalto, em um período em que possivelmente se encontrou com o então presidente. Porém, o relatório da polícia não afirma que Bolsonaro concordou com o plano.
A PGR, no entanto, sustenta que ele não apenas soube, mas deu aval ao esquema. Para justificar essa acusação, Gonet cita uma mensagem de Fernandes enviada a Mauro Cid, na qual o general diz ter falado com Bolsonaro e que “qualquer ação” poderia acontecer até 31 de dezembro.
Nos depoimentos mais recentes de sua delação premiada, Mauro Cid foi questionado se Bolsonaro tinha conhecimento do plano e respondeu:
“Eu não tenho ciência se o presidente sabia ou não.”
A posição de Cid, que enfraquece a tese da PGR, também não foi levada em conta na denúncia.A denúncia também trata da participação do general Estevam Theophilo, chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército no fim de 2022. A PF levantou a hipótese de que o militar teria aceitado participar do golpe, desde que Bolsonaro assinasse um decreto formalizando a ruptura institucional.
A principal evidência é uma mensagem de Mauro Cid enviada a um interlocutor:
“Mas ele quer fazer… Desde que o Pr [presidente] assine.”
Apesar dessa suspeita, a PF não afirmou de forma conclusiva que Theophilo estivesse disposto a concretizar o golpe. Em depoimento, Mauro Cid minimizou o envolvimento do militar e declarou:
“Até mesmo o general Theophilo comentou algumas vezes que ele não aceitaria assumir o Exército se o general Freire Gomes fosse retirado, até por lealdade a ele.”
Mesmo assim, a PGR incluiu Theophilo na denúncia, reforçando a suspeita sobre sua adesão ao golpe.
A denúncia da PGR contra Bolsonaro apresenta elementos que vão além das conclusões da Polícia Federal, atribuindo ao ex-presidente um papel mais ativo nos atos de 8 de janeiro e na trama golpista.
Enquanto a PF apontou Bolsonaro como instigador do clima de desordem, a Procuradoria o responsabiliza diretamente pelos ataques e pela anuência a um plano de assassinato de autoridades, mesmo sem apresentar provas conclusivas além de mensagens que podem ter diferentes interpretações.
Fonte: hora brasília
Para ler no celular, basta apontar a câmera