13/02/2025 às 10:19
A Agência de Desenvolvimento Internacional dos EUA (USAid) transferiu mais de US$ 20,6 milhões (aproximadamente R$ 118 milhões) para projetos no Brasil durante o ano fiscal de 2024, com foco em programas ambientais e assistência a populações vulneráveis. No entanto, a posse de Donald Trump (Republicanos) em janeiro de 2025 resultou na suspensão das atividades da agência e no bloqueio de novos repasses, gerando incerteza para diversas iniciativas no país.
Os dados, provenientes da plataforma oficial ForeignAssistance.gov, abrangem o período de 1º de outubro de 2023 a 30 de setembro de 2024 e foram atualizados pela última vez em 19 de dezembro de 2024, um mês antes do anúncio dos cortes.
A maior parte dos fundos foi destinada a instituições internacionais:
. US$ 11,4 milhões (55,56%) foram enviados diretamente a empresas, instituições e agências estrangeiras para aplicação no Brasil.
. US$ 3,6 milhões (17,44%) foram repassados a ONGs internacionais com atuação no país, como a WWF-Brasil.
. US$ 3,1 milhões (15,33%) chegaram a organizações e institutos brasileiros.
. US$ 2,4 milhões (11,67%) foram enviados para entidades não especificadas.
A falta de transparência em parte dos repasses ocorre porque a legislação norte-americana Foreign Aid Transparency and Accountability Act (2016) permite a omissão de informações em casos que envolvam segurança nacional, sigilo comercial ou riscos à saúde de beneficiários.
O CGIAR (Grupo Consultivo para Pesquisa Agrícola Internacional) foi o maior recebedor de recursos da USAid no Brasil em 2024, obtendo US$ 6,4 milhões para seu Fundo 2, com vigência até 2026. A organização, focada em pesquisa agrícola, colabora com a Embrapa, mas a estatal brasileira nega qualquer vínculo com a USAid.
O CIFOR-ICRAF (Centro Internacional de Pesquisa Agroflorestal), dedicado à gestão sustentável de florestas, recebeu US$ 2,7 milhões. Seu contrato com a USAid ia até 2026, mas o congelamento dos repasses ameaça a continuidade das pesquisas.
Entre as ONGs internacionais com atuação no Brasil, a Adra (Agência Adventista de Desenvolvimento e Assistência Internacional) recebeu US$ 2,2 milhões para dois projetos humanitários: um voltado à nutrição de populações afetadas por crises (US$ 1,9 milhão) e outro de assistência alimentar a imigrantes (US$ 304,5 mil). Em nota, a Adra Brasil disse estar avaliando o impacto do corte.
A WWF-Brasil obteve US$ 1,3 milhão para o projeto Tapajós for Life, que buscava conservar a região do rio Tapajós, na Amazônia. A iniciativa tinha previsão de encerramento apenas em 2027.
Apenas quatro organizações brasileiras receberam repasses diretos da USAid em 2024.
A Cáritas Brasileira, ligada à Igreja Católica, foi a maior beneficiada, com US$ 1,5 milhão para dois projetos de apoio nutricional e assistência emergencial.
O Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) obteve US$ 977 mil para atividades de proteção ambiental em terras indígenas no Amazonas e Roraima, parceria que iria até 2028.
O Centro de Trabalho Indigenista, que atua na defesa dos povos indígenas desde 1979, recebeu US$ 603 mil para o projeto Alliance of Indigenous Peoples for the Forests of the Eastern Amazon, voltado à conservação da floresta e desenvolvimento sustentável de comunidades indígenas.
O Instituto Centro de Vida foi o menor recebedor de verbas, com apenas US$ 33,4 mil destinados ao projeto Assobio. Em nota, a entidade confirmou a suspensão das atividades e aguarda um posicionamento do governo dos EUA.
A USAid, responsável por 40% da ajuda humanitária global, teve suas operações congeladas em 26 de janeiro de 2025 por decisão de Donald Trump. O presidente afirmou que a agência “não representa os interesses dos EUA e, muitas vezes, atua contra os valores norte-americanos”.
O empresário Elon Musk, nomeado chefe do Doge (Departamento de Eficiência Governamental), endossou o corte e intensificou críticas à USAid, acusando a agência de ser um instrumento da CIA e de atuar na censura da internet. Em uma postagem no X (antigo Twitter), Musk declarou: “Não se trata de uma maçã podre. O que temos é um ninho de vermes”.
O escritório da USAid no Brasil já está fechado, e seus representantes não quiseram comentar a situação.
Fonte: Repórter PB
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