07/04/2025 às 14:26
A recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de ampliar o alcance do foro privilegiado está gerando fortes repercussões no xadrez político de olho em 2026. Em 11 de março, por 7 votos a 4, a Corte decidiu que autoridades continuam com foro no STF mesmo após deixarem o cargo, desde que ainda tenham influência política. A medida, que parecia técnica, rapidamente ganhou contornos políticos — e um alvo imediato: Gilberto Kassab, presidente do PSD.
Dias após a decisão, o ministro Alexandre de Moraes determinou o retorno ao STF de um inquérito contra Kassab, anteriormente arquivado pela Justiça Eleitoral. Embora caiba à Procuradoria-Geral da República (PGR) decidir se retoma ou não o processo, a mensagem nos bastidores foi clara: o Judiciário está de olho em quem tenta se alinhar com Bolsonaro.
A reativação do inquérito contra Kassab ocorre no momento em que o PSD ensaia uma aliança com o PL de Jair Bolsonaro, articulando uma possível chapa em torno do governador Ratinho Júnior (PR). Para muitos políticos, o gesto de Moraes foi interpretado como um freio jurídico disfarçado de movimentação processual.
O próprio deputado Reinhold Stephanes (PSD-PR), vice-líder da legenda, não poupou críticas.
A base bolsonarista vê o movimento como parte de um padrão: usar o Judiciário para isolar politicamente qualquer articulação que ameace o projeto do Planalto — especialmente num momento em que a oposição tenta se reagrupar com nomes competitivos para 2026.
Além de Kassab, outros nomes importantes da direita também enfrentam dificuldades jurídicas.
– Ciro Nogueira (PP-PI) foi denunciado por obstrução de justiça em investigações sobre corrupção na Petrobras, embora o STF tenha rejeitado a acusação (a PGR ainda pode recorrer).
– Ronaldo Caiado (União-GO) foi condenado por abuso de poder político e aguarda julgamento no TSE, o que pode afetar diretamente sua elegibilidade.
Caiado, aliás, tem adotado um tom mais conciliador nos últimos dias. Em entrevista ao portal Metrópoles, afirmou que “debater impeachment de ministros do STF não interessa ao povo”, num claro sinal de tentativa de apaziguamento — ou, ao menos, de autopreservação.
Ao ampliar o alcance do foro, o STF não apenas recupera o controle sobre processos de figuras influentes, mas também aumenta sua capacidade de interferência no calendário político. Basta não arquivar um inquérito — ou movê-lo de volta ao tribunal — para que a incerteza jurídica contamine articulações eleitorais.
Para críticos, trata-se de uma judicialização seletiva do debate político, onde decisões formais se convertem em pressões indiretas para moldar o jogo antes mesmo que a eleição comece.
Para aliados do Planalto, no entanto, o STF apenas cumpre seu papel de vigilância sobre figuras que tentam escapar da Justiça após o mandato — e, nas entrelinhas, rechaçam alianças que envolvam anistia aos atos de 8 de janeiro.
Com o processo ressuscitado, Gilberto Kassab se torna uma peça-chave sob pressão: se mantiver a aproximação com Bolsonaro, pode enfrentar desgaste jurídico e político; se recuar, enfraquece a articulação de uma candidatura competitiva da oposição.
Enquanto isso, o recado está dado: em 2026, a corrida eleitoral começa nos tribunais — e não nas urnas. E os candidatos sabem: ter foro pode não garantir absolvição, mas perder o foro não significa liberdade.
Fonte: Hora Brasilia
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