14/04/2025 às 16:39
A crise no bolso do brasileiro já virou rotina — e agora também virou problema político direto para o governo. Segundo pesquisa Datafolha realizada entre 1º e 3 de abril, 58% dos brasileiros afirmam ter reduzido a quantidade de alimentos comprados por causa da inflação. Entre os mais pobres, o índice sobe para 67%. O retrato do país é de aperto, renúncia e desgaste.
A pesquisa entrevistou 3 mil pessoas em 172 municípios. Os dados escancaram o que já se sente nos corredores dos supermercados: a comida está cara, o dinheiro encurtou, e a paciência também. Comer fora virou luxo: 61% dos entrevistados fazem isso com menos frequência. O tradicional cafezinho perdeu espaço — metade trocou de marca por uma mais barata e 49% reduziram o consumo.
Um quarto dos brasileiros relatou ter menos comida do que o necessário em casa. Apenas 13% disseram ter mais do que precisam — mesmo índice registrado em março do ano passado. O país estagnou no mapa da insegurança alimentar.
A tentativa de escapar da inflação levou metade da população a cortar também o uso de água, luz e gás. Outros 47% correram atrás de uma segunda fonte de renda. Mas o custo da sobrevivência vai além: 36% deixaram de comprar remédios, 32% atrasaram dívidas e 26% não conseguiram pagar contas domésticas.
E se o estrago no consumo é visível, o impacto político é inevitável. O levantamento mostra que a maioria culpa o governo pela alta nos preços. Para 54% dos entrevistados, Lula tem grande responsabilidade pela inflação nos alimentos. Outros 29% dividem essa culpa com o governo. Só 14% isentam o Planalto.
O dado mais simbólico: até entre os eleitores de Lula, 72% reconhecem alguma responsabilidade do governo pela situação. E embora a aprovação da gestão tenha subido de 24% para 29%, a reprovação segue maior, com 38%.
Medidas anunciadas pelo governo, como isenção de impostos sobre importação de alguns produtos, ainda não se converteram em alívio no bolso. Nas gôndolas, os preços continuam elevados. E a percepção de que “não está funcionando” cresce.
A percepção sobre as causas da inflação é dividida, mas o governo federal lidera o ranking de culpados, seguido por produtores rurais, a crise climática, conflitos internacionais e até a crise americana. Na faixa de até dois salários mínimos, 55% culpam o Planalto e 54% responsabilizam os produtores. Já entre os mais ricos, os percentuais caem para 41% e 36%.
O viés político é evidente: entre eleitores de Zema e Tarcísio, 78% e 77%, respectivamente, jogam a culpa em Lula. Já os lulistas distribuem o peso entre produtores (57%) e a instabilidade global (55%).
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ratificou a percepção popular: a inflação acumulada em 12 meses até março chegou a 5,48%. Só em março, o índice foi de 0,56%, puxado principalmente pelos alimentos. Entre os maiores vilões: tomate (22,55%), ovos (13,13%) e café moído (8,14%). Nos últimos 12 meses, os aumentos acumulados foram de 0,13% (tomate), 19,52% (ovos) e 77,78% (café).
As causas variam: volta às aulas, gripe aviária nos EUA, ondas de calor extremo, problemas na safra. Mas o efeito é o mesmo: menos comida no prato e mais pressão sobre o governo.
A percepção da economia também azedou. Para 55% dos brasileiros, a situação econômica piorou — em dezembro, esse número era 45%. Pela primeira vez desde o início do terceiro mandato de Lula, a maioria enxerga piora no cenário econômico.
O Datafolha mostra que a inflação já deixou de ser um gráfico técnico para se tornar um catalisador de descontentamento popular. E o Planalto, por enquanto, não encontrou o antídoto.
Fonte: Repórter PB
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