Sousa/PB -
ex-governador

HISTÓRIA: A trajetória do líder político Antônio Mariz

Um fato marcante no seu casamento foi a igualdade de classes tendo como padrinhos um simples trabalhador sousense

Da Redação Repórter PB

15/12/2024 às 21:52

Imagem Antônio Marques Mariz, a lenda

Antônio Marques Mariz, a lenda ‧ Foto: divulgação

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Antônio Marques da Silva Mariz nasceu em João Pessoa, em 5 de dezembro de 1937. Filho do ex-deputado estadual e ex-interventor na Paraíba (1934-1935), José Marques da Silva Mariz e de Dona Noemi de Holanda Mariz. Em 1963 casou-se com Maria Mabel Dantas Mariz filha de Jacinto Dantas e Mabel Santos Dantas, em cerimônia na Igreja de Nossa Senhora de Lourdes, em João Pessoa, com quem teve duas filhas: Adriana Mariz e Luciana Mariz.

Um fato marcante no seu casamento foi a igualdade de classes tendo como padrinhos um simples trabalhador sousense, Severino Maribondo e sua esposa Chicola e o governador do Estado da Paraíba, Pedro Moreno Gondim e sua esposa Sílvia Marques Gondim. Seu avô paterno Antônio Marques da Silva Mariz, de quem herdou o nome, foi de deputado estadual, foi político do Império e deputado federal de 1894 a 1903.

Em 1940 Antônio Mariz e família mudaram-se para o Município de Catolé do Rocha em razão da a perseguição política do interventor Rui Carneiro. Em 1947 a família retornou ao Município de João Pessoa onde Mariz concluiu o Ginásio no Colégio Pio X e matriculado no Lyceu Paraibano para o Ensino Médio. Em 1953 sua mãe de Dona Noemi de Holanda Mariz ficou viúva com Mariz com apenas dezesseis anos. Concluiu o Curso de Direito na Faculdade Nacional de Direito do Rio de Janeiro em 1960 e estudou Ciências Políticas na Universidade de Nancy, na França.

Depois de concluído o curso de Direito, Antônio Mariz retornou para à Paraíba para rever os familiares e dar início à atuação como advogado. Inscreveu-se no concurso para o Ministério Público no vizinho estado do Rio Grande do Norte, conseguindo a aprovação em primeiro lugar. A sua atuação foi na comarca da cidade de Martins, interior do estado. Com aspirações políticas e vontade de estar perto da Paraíba, Mariz fez o concurso para promotor público em 1962, desta vez, para a cidade de Antenor Navarro (atual São João do Rio do Peixe).

Filiando-se ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), foi eleito prefeito de Sousa (PB) em 1963, aos 25 anos, com 3.876 votos, 35,67% dos votos válidos, contra Felinto da Costa Gadelha (Tozinho Gadelha). Também esteve na disputa o médico Laercio Pires. Durante a sua gestão como Prefeito de Sousa e tendo como Secretário de Educação o Padre Lamberto Bohgard foi realizado o primeiro Concurso para Professores Municipais de Sousa.

Em 1969 foi nomeado secretário de Educação e Cultura pelo novo governador da Paraíba, seu primo João Agripino Filho (1966-1971). Permaneceu na secretaria até o ano seguinte, quando se desincompatibilizou do cargo para concorrer a um mandato eletivo. Sua gestão foi marcada pela interiorização do ensino superior, com a criação das faculdades de Patos, Cajazeiras e Guarabira, pela ampliação da rede estadual de ensino e pela implantação de um programa de bolsas de estudo para estudantes carentes.

Durante a campanha, Antônio Mariz adotou um discurso inovador. Defendeu a anotação na Carteira de Trabalho, então desconhecida, o pagamento do salário mínimo aos trabalhadores e a necessidade da reforma agrária na linha das reformas de base do presidente João Goulart (Jango), deposto pelos militares no Golpe de Estado de 1964. Antônio Mariz assumiu o compromisso público de prestar contas de todo o dinheiro que entrasse e saísse dos cofres da Prefeitura.

Foi eleito, inicialmente, com uma diferença de apenas dez votos. Feita a recontagem, a pedido do grupo Gadelha, a diferença caiu para sete votos. Na disputa para prefeito de Sousa, pois era taxado pela oposição como forasteiro e desconhecido, porque nascera na capital João Pessoa. O princípio de moralidade da Administração Pública diferenciou Antônio Mariz da política tradicional que existia na época. Antes de Antônio Mariz, quem detinha o poder era o grupo Gadelha, junto com a família Oliveira, formando um único grupo político.

Após o golpe militar de 1964, Mariz foi acusado pelos udenistas de Sousa de ter sido solidário a João Goulart, por meio de telegrama que lhe enviou, e de ser comunista e subversivo. Foi afastado do cargo, preso e submetido a um Inquérito Policial-Militar (IPM) perante o Grupamento de Engenharia de João Pessoa. Permaneceu detido por pouco tempo, volta a Sousa causando grande comoção popular logo reassumindo a Prefeitura. A transparência foi uma marca da sua gestão. Por meio da rádio Difusora Rio do Peixe, todos os dias prestava contas das despesas e receitas públicas.

Em 1970, Mariz se candidatou a deputado federal, ficando entre os mais votados, com 59.434 votos. Voltou a ser eleito para a Câmara dos Deputados em 1974, 1978 e 1986. Como deputado, defendeu a restauração da ordem democrática e da liberdade política.

Comprometido com a luta pelos direitos humanos, apoiou a CPI que investigaria a prática de tortura, o desaparecimento e o assassinato de presos políticos. Prestou solidariedade a jornalistas presos e condenou o fechamento de jornais. Considerado um dos grandes juristas na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, saía sempre em defesa do Brasil, do Nordeste e da Paraíba.

Em 1990, Mariz candidatou-se à única vaga ao Senado, em uma eleição na qual o candidato do PMDB ao governo da Paraíba foi Ronaldo Cunha Lima. Mariz derrotou o então senador Marcondes Gadelha (PFL) por uma maioria superior a 200 mil votos. No segundo turno para o governo, Ronaldo Cunha Lima venceu o ex-governador Wilson Braga, com vantagem superior a 100 mil votos. O maior desafio de Antônio Mariz como senador foi relatar o processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor na Comissão Especial do Senado Federal, em 1992.

Em 1994, Mariz foi eleito governador da Paraíba pelo PMDB, derrotando, no segundo turno, a candidata do PDT, Lúcia Braga, com 222 mil votos de vantagem. Ronaldo Cunha Lima e Humberto Lucena, candidatos ao Senado na mesma chapa, também saíram vitoriosos. Em fevereiro de 1995, no início de seu mandato, Mariz mandou substituir o piso no terraço do Palácio da Redenção devido à presença da suástica, símbolo associado ao nazismo, no mosaico. A decisão provocou polêmica entre historiadores da Paraíba, que debateram o significado político e histórico do local.

Em março do mesmo ano, foi admitido pelo presidente Fernando Henrique Cardoso à Ordem do Mérito Militar no grau de Grande-Oficial especial. Já no discurso de posse deixou clara a opção preferencial pelos pobres.

Para definir a sua gestão, criou o slogan Governo da Solidariedade. Estabeleceu como prioridades a otimização da rede pública de saúde e a elaboração de um arrojado programa de educação pública, além da instalação de bibliotecas por todo o estado.

Preocupado com a produção agrícola, assumiu os desafios de reabilitar as lavouras tradicionais e de promover a adoção de técnicas mais adequadas para elevar a produtividade e diminuir a dependência da irregularidade climática. Nesse sentido, acertou com o governo federal a construção do canal para transposição de águas do sistema Coremas–Mãe d’Água para as várzeas de Sousa. O estímulo à indústria foi outra vertente de trabalho destacada no projeto de resgate da cidadania, com a eliminação da pobreza.

O governador do Estado da Paraíba Antônio Mariz faleceu em João Pessoa no dia 16 de setembro de 1995 na residência oficial do governador a Granja Santana. Após sua morte, foi sucedido pelo vice-governador, José Targino Maranhão. A morte do governador Antônio Mariz causou grande consternação à alma do povo da Paraíba. Toda a Paraíba chorou e lamentou a morte daquele que, segundo os próprios paraibanos, trouxera esperança ao estado.

Disse o jornalista Petrônio Souto “Mariz é para o povo da Paraíba o que o Rei Dom Sebastião é para o povo de Portugal. Dom Sebastião era um rei jovem, culto, justo, corajoso, trabalhador, querido pelo povo. Foi combater os Mouros com as Cruzadas. Morreu e seu corpo jamais foi encontrado. Até hoje os portugueses esperam a volta dele. Mariz é o nosso Sebastião. Morto aguardaremos a sua volta. Eternamente (A UNIÃO, 1995, p. 8).

Morre o político. Nasce a lenda

Fonte: Abdias Duque de Abrantes

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